domingo, 10 de junho de 2012

Bom dia!

Acordei com uma enorme sensacao de paz.
Sofa, pijama, uma serie... a casa comeca a acordar.
E ca em casa, quem acorda primeiro faz o pequeno almoco...logo, acabou o sossego.
A paginas tantas procuo a paz e nao a encontro!
tenho a C. em cima de mim a querer colar autocolantes pela minha cara.
O A. esta todo colorido com os tais autocolantes.
E berros, e "sai da frente", "vai tomar banho"... Socorro!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

MEC

"Desmorrer, de Miguel Esteves Cardoso! (in Público, 30.05.12)

Desta vez, a Maria João teve sorte. Nunca tinha visto uma médica a chorar. Foi a Maria João que puxou as lágrimas, quando a Dra. Teresa Ferreira lhe disse que não havia mais metástases dentro dela. Ficámos os três a chorar e a olhar para os outros olhos a chorar.

A minha amada já tinha esquecido o futuro. Já não queria saber da casa nova, do tecido para forrar os sofás, do Verão seguinte. Estava convencida que estava cheia de metástases. Doía-lhe o corpo todo. Tinha desanimado. Estava preparada para a morte. Só a morte é mais triste. Tinha-se preparado para ouvir o que já sabia, para não se assustar quando lhe dissessem que o cancro na mama tinha voltado e que se tinha espalhado por toda a parte.

Depois - mas não logo, porque não é de momento para o outro que se desmorre - voltou a ver vida pela frente. Reapareceu um horizonte e um caminho até lá, com passos para dar. "São tão raras as boas notícias", disse a médica, "e é tão bom dá-las, vocês não imaginam". Nós não imaginámos. Começámos a chorar. As lágrimas ajudam muito. As dos outros especialmente. Chorar sozinho não tem o mesmo efeito. A Maria João tem chorado por razões tristes. Desta vez estava a chorar de felicidade.

Como chora cada vez que ouve ou lê palavras doces, a dar força, a partilhar a dor, a juntar-se para que ela saiba que há muita gente a sofrer com ela, tal é a vontade delas que ela não sofra. Ou sofra pouco. Embora isto de se ficar vivo também se estranhe um bocadinho."